17 de maio de 2022

Sobre manter um journal & dicas para quem quer começar

Falta pouco menos de um mês para entrarmos oficialmente na metade do ano, mas acho que já posso afirmar que 2022 está sendo meu ano de journaling. Não que eu já não venha mantendo o hábito da escrita como forma de registrar meu eu do presente como uma lembrança para o meu eu do futuro há um tempo, mas esse ano está sendo diferente. É como se eu estivesse um pouco mais consciente do que estou fazendo quando me coloco na situação de me transferir para uma folha de papel com o auxílio de uma caneta. Então, pela primeira vez, me sinto confortável para compartilhar algumas dicas com quem me acompanha. Minha intenção é dividir um pouco do que aprendi ao longo dos anos e, ao mesmo tempo, auxiliar quem quer começar a manter um journal e não sabe muito bem por onde começar.


Ao pesquisar a tradução da palavra journaling no Google, a definição que obtemos é diário. Na superfície, acho que faz sentido, mas na minha percepção, journaling é mais que isso. Muito mais do que manter registros dos acontecimentos dos nossos dias, um journal mantém registros da nossa jornada. Pode parecer a mesma coisa, mas não é. Gosto de pensar que há algo de mais profundo e poético na escrita de um journal, é como se usássemos suas páginas para deixar impressões digitais dos nossos sentimentos e reflexões, que muitas vezes surgem a partir dos acontecimentos dos nossos dias. É como uma fotografia na forma de manuscrito.

Existem estudos sobre os benefícios do journaling como uma ferramenta eficaz de autoconhecimento e que pode auxiliar na manutenção da nossa saúde mental e até na prevenção de doenças que afetam a memória. Tenho certeza que essas funcionalidades são realmente eficientes e estaria mentindo se elas também não estivessem por trás das minhas razões para manter um journal, porém vou além: para mim, manter um journal é uma forma de autocuidado e amor próprio. É algo que faço pensando apenas no meu próprio bem-estar emocional e com o intuito de manter equilíbrio mental. Isso ocorre quando desabafo sobre algum desentendimento que tive com alguém, quando escrevo sobre meus medos e anseios em relação ao futuro sempre incerto ou quando registro todas as emoções que me foram proporcionadas por qualquer lançamento da Taylor Swift. Os assuntos são variados e, por eu ser a minha própria editora, decidi que não preciso seguir linha editorial e nem manter um limite de palavras; quanto mais páginas por entrada, melhor!

Grifa-texto para marcar a data, adesivo para decorar as páginas, mudar de caneta no meio do registro porque a tinta está falhando ou a ponta não é macia, escrever em caixa alta para deixar claro que estou gritando, caligrafia feia porque estou cansada ou com muita pressa para colocar meus pensamentos no papel... tudo é válido e parte do processo que é manter um journal. No futuro, o que parecia um defeito era, na verdade, parte da magia que é se registrar em papel. A gente descobre muito sobre si a partir de garranchos, ingressos guardados, fotos de k-pop idols e washi tapes coloridas. É por isso que eu acho que todo mundo tinha que manter um journal. 

Journaling 101


Agora, vamos às dicas para quem quer manter esse hábito, mas não sabe por onde começar.

Seja verdadeiro. Parece óbvio, mas o lembrete é sempre válido. Você está escrevendo para você e é você quem irá ler as páginas no futuro, então não faz muito sentido se censurar, certo? Escreva sobre a sua vida como você realmente a percebe, sem filtros. Não tenha medo de enaltecer algo ou de admitir alguma falha, até porque você é humano e como tal, é complexo. Então, faz sentido que o seu journal reflita isso. 

Escreva regularmente. Essa é uma dica que eu gostaria de ter seguido mais, pois durante alguns períodos eu só escrevia no meu journal em dias ruins, como desabafo. Agora, sempre que releio aquelas páginas, fico com a sensação de que minha vida foi só uma sequência de tragédias. Por isso, tente escrever com regularidade, nos dias bons e ruins. Até aqueles dias em que nada parece ter acontecido merecem algum destaque, já que eles também fazem parte do todo que é a sua vida. 

Escolha materiais de que goste. Para começar a manter um journal, não é necessário muito mais que um caderno e uma caneta; justamente por isso, escolha aquilo que você gosta. O seu journal tem que ser atraente para que você se sinta motivado à escrever nele, ou seja, uma caneta confortável, um papel de boa gramatura e uma capa bonita valem ouro e fazem toda a diferença. Antes de começar, faça uma pesquisa na internet e opte por aquilo que faz mais sentido para você. Ah, e se permita ir descobrindo as suas preferências aos poucos. Dificilmente o seu primeiro caderno será o journal perfeito, até porque isso nem existe; então, veja o que funciona e o que deu errado e tente acertar no próximo. Acredite, você vai adorar o processo.

Faça um índice e enumere as páginas. Pode dar preguiça, mas faz muita diferença no momento em que você quer se lembrar de alguma ocasião ou sentimento. Antes de começar a escrever o journal, enumere as páginas e deixe a primeira página em branco para o índice, que você pode preencher aos poucos ou após concluir o caderno. Só depois de quatro cadernos é que adotei esse hábito, não sejam como eu.

Decore as páginas. Não é todo mundo que vai se interessar por essa dica, mas achei interessante colocar aqui porque me ajudou quando estava em uma fase em que precisava escrever, mas não encontrava ânimo para fazer isso. Decorar as páginas é um jeito de deixar o journal menos intimidador, já que isso pode aliviar a pressão imposta pela página em branco; também pode funcionar como uma forma de deixar o caderno mais atraente em períodos de desmotivação. Para aqueles que lidam com ansiedade, a atividade pode ser terapêutica. Não tem problema se você não é um Artista, pois todo mundo é artista da própria vida e do próprio journal, então faça o que quiser com as páginas do seu caderno. Eu costumo usar grifa-texto, washi tapes, adesivos, recortes e fotos. Tudo é válido, deixe a sua criatividade te conduzir.

Use prompts (comandos). A internet está cheia de listas de prompts que podem ajudar quem é iniciante e não sabe sobre o que escrever ou até os mais experientes que passam por uma fase de bloqueio. Você pode imprimir essas listas e colar no seu journal ou fazer a sua própria lista em uma das primeiras páginas para quando sentir vontade de escrever, mas estiver sem inspiração. Em todo caso, aqui vão alguns que acho que podem ser úteis para quem quer começar o seu primeiro journal e precisa de um incentivo:

  • Se apresente. Fale um pouco sobre você, qual é a sua história até agora, como você se enxerga.
  • Por que você quer manter um journal? Você pode discorrer sobre isso ou fazer uma lista dos motivos.
  • Faça um resumo da sua vida no momento e como você está se sentindo
  • Favoritos! Livros, filmes, séries, músicas, etc. Podem ser da vida toda ou só de agora. Fale do porquê de serem os seus favoritos. Falar das coisas que a gente gosta é uma ótima forma de desbloquear algumas travas.
  • Registre um fato sobre o seu dia. Pode ser o mais aleatório e banal, vai ser divertido reler no futuro.

Se permita não escrever. Minha última dica do post e uma das mais importantes. Journaling é para ser uma atividade positiva e que nos faça bem, então não tem porque complicar, certo? Se você não estiver sentindo vontade de escrever, não escreva e não se sinta culpado por isso. Acho essa uma dica valiosa principalmente pelos tempos em que vivemos, em que se exige produtividade o tempo todo, excelência em tudo, além de uma cobrança desumana . O mundo e a sociedade já colocam pesos demais nas nossas costas, a última coisa que precisamos é que mais pesos sejam adicionados por nós mesmos. Se a vontade de escrever sumir, seja gentil com você mesmo e não se preocupe, uma hora ela volta. Aproveite o seu tempo com outras atividades.